quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Entenda a CriseFinanceira Mundial

Para se entender a crise é necessário explicar a história do sistema bancário e como funciona, o que faço a seguir. Tudo começou cem anos atrás quando os bancos perceberam que poderiam tomar dinheiro emprestado de seus depositários, pagando-lhes juros, e o repassar como empréstimo a outro cliente por um juro maior, ganhando assim a diferença. Acontece que esse cliente utiliza o empréstimo na compra de um bem ou em investimento, e quem recebe o dinheiro, via de regra, deposita-o no banco que o utiliza em um novo empréstimo a um novo cliente, e, assim, sucessivamente, um só dinheiro gira indefinidamente amarrando todos os agentes econômicos e os bancos numa teia monumental. Esse mecanismo, que mantém a oferta de crédito de forma indefinida, o que chamo de crédito infinito, é chamado Alavancagem, e é festejado pela Economia como grande capacidade bancária de fazer dinheiro e assim, supostamente, estimular a economia - a demanda - via crédito barato, mas que se mostrou extremamente perverso pela crise a que conduz. O crédito infinito, calcado em empréstimo de dinheiro de terceiros, empurra os juros para zero e o banco é arrastado para a bancarrota. Quando o banco começa a demonstrar fraqueza provoca uma corrida de seus correntistas que, inseguros, procuram retirar seu dinheiro. Entretanto, como se viu, o dinheiro é apenas um e não existe de fato para satisfazer a todos agravando a situação do banco, e pior, se propagando e arrastando os demais bancos em efeito dominó e que arrastam com eles todo o sistema econômico pois o emaranhado financeiro envolve a todos, provocando caos na economia. É o Pânico. Aconteceram vários Pânicos no início de século 20. Predominando a visão dos banqueiros para evitar o problema, eles, donos do governo formaram com ele um fundo de reserva onde seria depositado o dinheiro excessivo nos bancos regulando assim a oferta evitando o arraste dos juros para zero. Essa reserva seria também utilizada para, em caso de Pânico, socorrer a instituição em dificuldade evitando a propagação. Convencionou-se que a reserva seria lastreada em títulos públicos remunerados a uma taxa de juros que seria a taxa básica do sistema bancário. O governo passou a ser, através de dívida pública, o tutor da atividade bancária. Um grande golpe dos banqueiros que consumou a dominação dos governos pelos banqueiros desde pelo menos 500 anos atrás. O Federal Reserve System, americano, é o principal fundo de reserva no mundo e foi criado em 1913. O que se vê é que, ao final, o crédito barato é mantido por impostos o que desmente a tese de estímulo à economia. Após a era Keynes, inventor da macroeconomia e defensor da intervenção estatal na economia, após a crise de 1929, a idéia evoluiu de Fundo de Reserva para o de Banco Central que, daí em diante, não apenas daria garantia bancária mas seria o regulador da economia, principalmente dessa maracutaia chamada “Controle da Inflação”. Com os Bancos Centrais, a taxa básica inverteu seu papel, e o fundo se chamou Depósito Compulsório, apresentado, agora, como obrigação bancária. Não interessava mais taxa básica pequena, pois era estímulo à demanda, o que supostamente causaria inflação. Esse efeito de Banco Central ao invés de Fundo de Reserva é sentido principalmente nos países em desenvolvimento que pagam altas taxas básicas e cobram altos impostos, porém com uma vantagem colateral que é diminuir a Alavancagem, e assim estarem menos sujeitos à crise de Pânico. Só para evidenciar, as taxas básicas nos países desenvolvidos não ultrapassam 5% a.a, sendo que nos subdesenvolvidos nunca é menor que 12% podendo ser 20, 25% a.a ou mais. Com essa remuneração os bancos passaram a viver principalmente de “receitas do governo” sem necessitar emprestar ao mercado. No século 20, com a economia crescente, o sistema econômico conviveu com a aberração bancária e a maléfica intervenção estatal. Porém, ao final do século, a economia do mundo desenvolvido dava sinais de saturação e a do mundo subdesenvolvido era mantida estagnada pela intervenção estatal cobrando impostos e pagando taxas básicas, ambos altíssimos. Portanto, a crise atrás da crise financeira é de produção. Diante da estagnação, os bancos do mundo desenvolvido, aproveitando-se da tutela estatal, começaram a emprestar dinheiro sem as garantias devidas, principalmente ao sistema imobiliário – sub prime. Não demorou e a crise financeira explodiu e os governos, através dos Bancos Centrais, foram chamados a garantir os Bancos, o que se repetirá enquanto se mantiver a Alavancagem. Como as empresas criaram o hábito de financiar seu capital de giro, serão envolvidas na crise de crédito também. A intervenção estatal causou sérias distorções na economia. Nesse momento é talvez certo o governo intervir executando as garantias mas direto aos credores e devedores dos bancos, mas se retirando de vez do sistema bancário e avisando ao mercado que quem emprestar dinheiro aos bancos certamente irá à falência com ele. Os bancos devem emprestar apenas seu patrimônio para evitar o Pânico. Assim, como acontece com as demais empresas, se falirem, não afetarão muitos agentes. Caso contrário, a mamadeira estatal terá que continuar. A retirada do governo tem que se reverter em uma diminuição de impostos visto que a despesa futura diminui. A poupança popular deve se dirigir ao mercado de ações, principalmente, o que garante capital de giro por preço barato às empresas sem intermediação bancária, ou investimento de risco no sistema produtivo, ou imóveis. Ou embaixo do colchão como faziam, sem vícios financeiros, sabiamente, nossos avós.